A ventania rodeia-nos num turbilhão. O fumo entra pelas
frinchas das janelas carregado de fuligem e poeira. Ardem os olhos e custa-nos
respirar. É domingo de manhã e a energia
eléctrica foi-se embora depois de várias vezes ameaçar a sua retirada sem prazo
para regressar. Estamos nos Montes Libombos mas poderíamos estar noutro local
qualquer do país ou até do continente. Quando a época seca está no seu auge e
ainda se sentem as noites frescas é que ocorrem as queimadas, a que nós
europeus chamamos incêndios, quase todas provocadas pela mão humana, seja
deliberadamente seja por descuido. Transformam a paisagem castanha cheia de
capim seco em campos nus cobertos de um manto negro e pontuados pelas fortes
árvores que conseguem sobreviver. Depois da queimada extinta é a vez dos
carvoeiros percorrerem os campos cortando e recolhendo a madeira que sobrou
para rechearem os seus fornos de carvão. Num País em que a esmagadora maioria
da população depende da lenha e do carvão para a confecção dos seus alimentos
quase ficamos tentados a compreender estes actos não fossem as tágicas
consequências humanas, sociais, económicas e ambientais que provocam.
Passados alguns dias a paisagem surpreende-nos novamente:
onde eram só negro e desolação eis que despontam manchas de um verde
fluorescente cheio de energia. A terra absorve toda a humidade que a noite traz
e fica ali a conservar as energias espreitando as primeiras chuvas. Com as chuvas virão o calor, as folhas, as
flores, os frutos, os bichos, o capim, as sementeiras e a vida. De que mais precisamos
nós?
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