terça-feira, 14 de agosto de 2012

FOGO



A ventania rodeia-nos num turbilhão. O fumo entra pelas frinchas das janelas carregado de fuligem e poeira. Ardem os olhos e custa-nos respirar.  É domingo de manhã e a energia eléctrica foi-se embora depois de várias vezes ameaçar a sua retirada sem prazo para regressar. Estamos nos Montes Libombos mas poderíamos estar noutro local qualquer do país ou até do continente. Quando a época seca está no seu auge e ainda se sentem as noites frescas é que ocorrem as queimadas, a que nós europeus chamamos incêndios, quase todas provocadas pela mão humana, seja deliberadamente seja por descuido. Transformam a paisagem castanha cheia de capim seco em campos nus cobertos de um manto negro e pontuados pelas fortes árvores que conseguem sobreviver. Depois da queimada extinta é a vez dos carvoeiros percorrerem os campos cortando e recolhendo a madeira que sobrou para rechearem os seus fornos de carvão. Num País em que a esmagadora maioria da população depende da lenha e do carvão para a confecção dos seus alimentos quase ficamos tentados a compreender estes actos não fossem as tágicas consequências humanas,  sociais, económicas e ambientais que provocam.
Passados alguns dias a paisagem surpreende-nos novamente: onde eram só negro e desolação eis que despontam manchas de um verde fluorescente cheio de energia. A terra absorve toda a humidade que a noite traz e fica ali a conservar as energias espreitando as primeiras chuvas.  Com as chuvas virão o calor, as folhas, as flores, os frutos, os bichos, o capim, as sementeiras e a vida. De que mais precisamos nós? 



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